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Quem sou eu?

 Mauricio Monteiro gosta de música,

poesia,  história e politica.

Fez mestrado, doutorado e agora cismou que faz o pós-doutorado (se é que esses titulos todos têm alguma importância). Trabalhou na RTV Cultura e fez resenhas para a Folha de São Paulo; é professor. Virou consultor científico da FAPESP e acha isso muito bom.

Tem uma filha, o maior dos presentes.

Pretende ser musicólogo algum dia!

Não é flamengo

nem tem uma nega chamada Teresa.

Resenhas Críticas Musicais

 






Django - Tarantino.

 

 

Não pude evitar. O filme é tão bom e os atores estão tão bem colocados que mais uma vez, Quentin Tarantino mostra que pode-se fazer cinema como entretenimento e cultura. Django (Jamie Foxx) é uma espécie proposital de Sigfried que, por um idílio bem costurado,  busca pela sua Brünhilde (Kerry Washington que no filme interpreta Broomhilda). Um mito alemão no velho oeste estadunidense, uma tragédia wagneriana revista depois de Sergio Corbucci. A coincidência não é só o nome. Os dois personagens se tornam centrais e o idílio de Sigfried sai das paisagens germânicas e se desenrola sobre tiros, cavalos, poeiras, escravidão americana e um humor inteligente.  O filme começa com o antigo tema de Django (Luiz Enriquez Bacalov de 1966) em um dos eventos mais perversos da historia humana: o trafico de negros para servir nas plantations puritanas. Mas o Richard Wagner dentista (Christoph Waltz como Dr. Schultz) passava por esse cenário e, como caçador de recompensas, procura por bandidos e se depara com Django, libertando-o. Depois de formarem uma parceria e cumprirem um trato, Dr. Schultz recomenda a Django que procure por sua Broomhilda e vá para “algum lugar mais civilizado dos Estados Unidos”, ou seja, deixar o asqueroso sul escravista. Leonardo Di Caprio (Calvin Candie) é um desses abomináveis sulistas, que mal sabem ler e querem ter a politesse francesa de uma belle époque mentirosa – ele se diverte com a tortura e morte de negros. Samuel Jackson (Stephen) é um desses capitães do mato aposentado que, por comodidades e privilégios, torna-se m entreguista de seus pares. Também impecáveis.  A trilha sonora é perfeita. Dentre tantas músicas maravilhosas, Tarantino vai de Beethoven (Pour Elise), Giuseppe Verdi (Dies Irae do Requiem), Enio Morricone a Jonhhy Cash. Deve-se atentar - como um saudosismo musical e cinéfilo - para as obras do bang-bang spaghetti, o assovio bem afinado de Trinity Titoli (Lo Chiamavano Trinita) de Franco Micalizzi. Três cenas são muito atraentes: a primeira acontece quando chega um bando de racistas a cavalo, meio Ku-Klux-Klan, meio Monty Python, sob ao réquiem de Giuseppe Verdi. É um melodrama. Eles pretendem armar uma tocaia para prender ou matar Django e Dr. Schultz. Ao som do Dies Irae, Dies Illa (poema de Thomas de Celano, do século XIII que se tornou trecho da missa dos mortos e que, em latim, pode ser traduzido como o dia do juízo final: ‘aquele dia, dia de fúria’) os escravistas se debatem se devem ou não, usar a máscara, pois os furos para os olhos estão pequenos. A segunda acontece na casa do afrancesado sádico, Calvin Candie. Depois de descoberta a trama de Django e Dr. Schultz para resgatar Broomhilda, todos foram para uma sala sob a vigilância dos capangas de Candie. A cena, ao som de Pour Elise de Beethoven, tocada em uma harpa pela irmã de Candie, mostra todos os rostos e um situação desagradável para Broomhilda, Django e Dr. Schultz. Sob os sons irritantes para os três que vivem o drama, a morte rondava. A ultima cena mostra a vingança de Django e o idílio completo. Ao som de Lo Chiamavano Trinita, do assovio macarrônico – no sentido italiano mesmo -, o Sigfried e a Bhünhilde do velho oeste fogem a cavalo deixando a propriedade do falecido Calvin Candie destroçada. O filme é uma critica às perversidades da escravidão, à sociedade estamental dividida entre a senzala e a casa grande. Em Tarantino, o drama se cura com a tragédia, nem que seja a dos outros.

​Matéria de Maurício Monteiro sobre lançamento do livro de Alex Ross (O Resto é Ruído) no Brasil, Guia da Folha, Folha de São Paulo, em 29/05/2009.


 

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